Rosualdo Rodrigues
Colunista de Variedades do Gastronomix
Trinta anos antes de escrever “Fisiologia do Gosto” — livro que
até hoje é parte da biblioteca básica de quem pretende estudar a teoria da
gastronomia –, o advogado, político e cozinheiro francês Jean Anthelme
Brillat-Savarin (1755-1826) morou por dois anos em Nova York.
Fora para lá fugido da Revolução Francesa. Ali, dava aulas de
francês e de violino para sobreviver. Na ocasião, não encontrou na cidade
nenhum restaurante que merecesse constar em suas anotações futuras.
Na verdade, à epoca, Nova York estava muito, mas muito longe, de ser o
paraíso gastronômico de agora. Já haviam os oyster bars, os bares de ostras,
uma tradição local, mas o cenário era de cidade interiorana.
Somente em 1825, mesmo ano em que “Fisiologia do Gosto” saiu na França,
é que surgiu o primeiro restaurante mais sofisticado na ainda “pequena
maçã”. Percebendo como a cidade estava desprovida de um estabelecimento do
tipo, o mercador de vinhos suíço Giovanni Delmonico foi buscar o irmão Pietro, bem-sucedido pasteleiro em Berna.
Abiram no número 23 da William Street o Delmonico’s. Inicialmente um
café, que servia doces, bolos, vinhos, charutos e, grande novidade para os
nova-iorquinos, um chocolate espesso e quente.
Seis anos depois, chegou o sobrinho dos dois, Francesco, que afrancesou
o próprio nome (para François) e o cardápio da casa. Surgiu então
o Delmonico’s Confeiteiros e Restaurant Français. Os suíços revolucionaram
o cenário gastronômico local, logo foram copiados e transformaram a culinária
francesa em sinônimo de boa comida em toda a América.
Outros restaurantes surgiram na cidade com o mesmo nome em anos
posteriores, mas nenhum conseguiu a mesma fama do original — que perdurou até
os primeiros anos do século 20.
Fonte: “A Grande Ostra — Cultura,
História e Culinária de Nova York” (Mark Kurlansky). Foto: jantar de honra
no Delmonico’s em 1906 (Wikipédia)
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