quinta-feira, 21 de setembro de 2017

CHAZEIRA // Na Rússia, com Ivan-Chá!

Eloína Telho
Colunista de Chá do Gastronomix

Quando a gente resolve se embrenhar no mundo dos chás, toda hora é hora de procurar um novo sabor. Os cafés da manhã dos finais de semana ou encontros com amigos à noitinha se tornam motivo para conhecer os cafés que abriram na cidade; pedacinhos de qualquer viagem se tornam oportunidade de ouro para se procurar utensílios diferentes, misturas exóticas, aquela loja incrível, a xícara perfeita.

E de tanto a gente falar sobre chá, expandir a paixão para além dos limites do nosso paladar, os amigos acabam se envolvendo nessa busca também. Os meus – os melhores, não canso de dizer! – sempre trazem uma nova oportunidade de conhecer culturas, aromas e sabores. Eles viajam e me levam com eles; acabamos buscando juntos a oportunidade de um novo gole, que também é a desculpa para novos encontros. Chá e afeto sempre andam juntos. E isso é demais! J

Dia desses, meu amigo Ronaldo, ao chegar da Rússia, me trouxe uma nova caixinha da felicidade.  “É o Chá do Ivan com menta”, ele disse, enquanto eu olhava assustada as letrinhas que nada me diziam, afinal, ler russo não está nem perto das minhas habilidades! Rs! Depois de provar o sabor, que não consegui associar a nada conhecido (a não ser a menta, suuuuper refrescante!), parti pro São Google, para tentar entender a novidade.
Meu Ivan-Chá com menta, na caixinha.

Ivan-Chá in natura!

De início, descobri que, na verdade, o Chá do Ivan ou Ivan-Chá (Koporsky Tea) é uma infusão. Não vem da Camellia Sinensis, mas de outra plantinha, Epilobium angustifolium. Em Inglês, achei com o nome de Rosebay Willowherb e, em, Português, como Salgueiro Angustifolia ou Salgueirinho. E ela é bem linda, olha só!

Na pesquisa, acabei encontrando a informação de que a Willowherb foi considerada, em 2002, a flor símbolo da cidade de Londres... Da Rússia para a Inglaterra, pra enfeitar os corações! Efeito da globalização, né, gente?

Os russos têm muita tradição no preparo de infusões herbais; a mais importante delas, que foi amplamente exportada como um “chá” nacional russo, é justamente o Ivan-Chá, feito a partir das folhas da planta. Antes mesmo da profusão dos chás chineses e indianos nas sociedades ocidentais, no século XVII, já era exportado para Europa Ocidental como “Chá Russo”, “Koporye Tea” e “Ivan-Chai”; foi o segundo produto mais exportado do país! Cresce especialmente em campos e perto de flores das da Rússia europeia e Sibéria, é colhido entre junho e julho, durante a floração, e pode ser apreciado em ervas frescas ou secas, em processo parecido com o do preparo do chá. Tem quem use suas raízes em um preparo parecido com café (fiquei curiosa para ver) e também em preparos culinários... Boas ideias, hein?

Quanto ao preparo, encontrei um videozinho; se quiser ver, está em https://www.youtube.com/watch?v=bdLe1CGtf8k. Mas atenção: o que eles chamam de fermentação é oxidação, viu, meu povo! Além disso, as flores que acrescentam não são originalmente da planta; são peônias, que usaram para aromatizar naturalmente a infusão, criando um “blend” de Ivan-Chá e peônias, parecido com o que fazem com chá verde e jasmim.

O nome, dizem, foi escolhido por ser “Ivan” o nome próprio mais comum do país, equivalente ao nosso “João”. Mas também há uma lenda associada ao nome da infusão, que encontrei no Blog “Comida Russa de Verdade” (http://comida-russa.blogspot.com.br), e adorei:

“Há muito tempo atrás, numa vila russa morava um moço chamado Ivan. O moço sempre andava vestido com uma camisa da cor de framboesa e passava o seu tempo nos campos e perto das florestas, entre as flores e ervas. Quando os moradores da vila viam a cor de framboesa entre as ervas verdes, eles diziam “Deve ser o Ivan passeando”!". Naqueles tempos a frase era assim, "Ivan tchai khodit!". Tchai (чай) significava "parece que", "deve ser". É homofóno da palavra russa tchai (чай - chá).

Um dia Ivan desapareceu. Mas como ele era bastante solitário e não falava com ninguém, as pessoas nem perceberam. A única coisa que eles lembravam dele era aquela cor que aparecia no meio do verde. Então, quando no lugar onde o moço costumava passear, cresceram as flores da mesma cor, as pessoas continuavam dizendo a mesma coisa, "Ivan tchai". Uma vez as mulheres da vila fizeram uma festa no campo. Elas cantavam e brincavam até a noite e ficaram com frio. Por isso decidiram fazer fogo e esquentar água. Como estava escuro, elas não queriam ir na floresta procurar lenha e pegaram aquela erva para fazer uma fogueira. Algumas folhas e flores caíram na água e quando as mulheres perceberam, experimentaram como ficou. Elas gostaram da bebida e desde aquele tempo o nome da erva é relacionado com chá.”

A infusão preparada, como adiantei, é bastante leve e refrescante, até adocicada. Só provei quente, preparada a 95oC, por 5 (cinco) minutos. Pelo sabor, imagino que deve ficar ótima também gelada. Vou tentar e conto depois!

Para quem se liga no sabor, mas não quer deixar de lado os benefícios (afinal, bebida boa com benefícios é tudo o que a gente quer, né?), passo a relacionar as propriedades comumente associados ao uso; dizem que tem efeito calmante, ajuda a curar os males do estômago e dor de cabeça, tem propriedades antissépticas, baixa pressão, trata do sistema urinário e reprodutor. Possui mais vitamina C do que a laranja e o limão (até seis vezes!!!), pelo que é um ótimo antioxidante. Rico em titânio, níquel, cobre, manganês e lítio, flavonoides e taninos. Li também sobre seu uso em tratamentos de dependentes químicos, especialmente em relação ao uso excessivo de álcool. Não tem cafeína e é um ótimo companheiro pré-sono.

Ufa, quanta informação! Mas achei tão interessante que não podia deixar de compartilhar.
Então me conte, você já tinha ouvido falar do Ivan-Chá? Já provou? Que chás ou infusões exóticos você conhece? Compartilhe aqui também, pesquisamos juntos! :)

Ah, se quiser me acompanhar pelo Instagram ou Facebook , lá estão as imagens que ilustram na prática tudo o que falamos por aqui, feitas a partir do meu #momentomágico: @chazeira (insta) ou @eloinachazeira (face).  Te espero lá, pra não morrermos de saudade até a próxima quinta, certo?

Beijos e bons chazinhos! Ou boas infusões! :)

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei a história do Ivan! Quando estiver dando um rolezinho na Rússia, experimento o bichinho. :)

Eloína Telho disse...

Tb achei interessante! Que bom te ver por aqui! Bj, bj! :)